Oitava edição do evento debateu temas como desinformação, redes e inteligência artificial no jornalismo
Por DANIELLY OLIVEIRA
14/12/2023
Debater o papel da inteligência artificial (IA) é sempre um exercício interessante, principalmente depois de (mais) um ano marcado pelo surgimento de novas tecnologias. Pois esse foi um dos propósitos da 8ª edição do Festival piauí de Jornalismo, realizado nos dias 2 e 3 de dezembro na Cinemateca Brasileira, em São Paulo (SP).
Os jornalistas da República – ávidos leitores e, alguns, colaboradores da revista piauí – vêm marcando presença no evento ao longo dos anos, como atestam as redes sociais (aqui, aqui e aqui). Na edição de 2023, estiveram presentes Rodrigo Oliveira e eu, Danielly Oliveira.
Destaques do Festival piauí de Jornalismo 2023
Os painelistas deste ano incluíram profissionais de sete nacionalidades e diferentes expertises. O evento foi tão rico em conteúdo que eu decidi ir além de um mero post no feed – e fazer uma curadoria com os principais assuntos do Festival piauí de Jornalismo 2023, como jornalismo de dados, IA e desinformação. Confira a seguir.
Não dá para confiar cegamente na IA
O papel da IA no jornalismo permeou todas as palestras do evento. Lam Thuy Vo, repórter do site americano The Markup, que analisa o impacto da tecnologia na sociedade, foi a primeira entrevistada do Festival piauí de Jornalismo 2023. Ela contou a história por trás dos seus trabalhos e alertou, com exemplos, para os riscos que o jornalismo corre quando confia cegamente em dados públicos, principalmente naqueles gerados por IA.
Já Marina Guevara, editora-executiva do Pulitzer Center, organização que financia reportagens sobre temas de impacto global, explicou que estamos trabalhando com um universo quase desconhecido – daí a importância de agir com cautela. Ela também defendeu que veículos atuem de forma colaborativa para investigar as empresas de IA, seus métodos, suas falhas e seus interesses financeiros.
É consenso entre os entrevistados de que os jornalistas precisam ser céticos quando se fala na invencibilidade e na inevitabilidade da IA. Para Guevara, por trás desse tipo de tecnologia não estão robôs infalíveis, e sim humanos com interesses econômicos e suscetíveis a erros. “Temos que questionar cada afirmação que recebermos das empresas de IA”, disse.
Diversidade na comunicação
Um tópico bastante citado no Festival piauí de Jornalismo 2023 foi a busca por diversidade na comunicação. Entre as iniciativas comentadas está o “Journalists of Color”, um grupo no Slack com mais de 5 mil jornalistas não brancos que se conectam para compartilhar informações sobre trabalho, dificuldades do mercado e denunciam episódios de racismo. Em 2019, o projeto ganhou o prêmio ONA Community Award, oferecido pelo Online Journalism Awards.
Na plataforma é possível ver as necessidades dos jornalistas não brancos, buscar igualdade, cobrir comunidades marginalizadas e empoderar essas pessoas dentro das redações.
Esse tipo de trabalho serve de amparo para muitos jornalistas, mas a ideia é que os próprios veículos de comunicação ofereçam apoio aos seus funcionários. “A diversidade no jornalismo não só sobre justiça social, mas um investimento na qualidade do noticiário”, defendeu Lam Thuy Vo, do The Markup.
Notícia e opinião
Essa é uma discussão antiga no jornalismo. Há quem diga que o jornalista precisa ser imparcial. Para outros, é impossível separar a opinião da notícia — seja pela escolha das fontes ou até a forma de contar a história.
Quem levantou esse debate no Festival piauí de Jornalismo foi Ben Smith. Dono de um currículo invejável – Smith já foi editor-chefe do Buzzfeed e colunista de mídia do jornal The New York Times –, ele usou a maior parte de seu espaço para falar sobre a criação do Semafor, site de notícias que estimula os repórteres a expressarem opiniões nos textos que escrevem.
“Os leitores de hoje buscam identificação com quem escreve as notícias”, afirmou Smith.
O site da revista piauí fez um resumo de todos os painéis do festival. Vale a leitura. 😉