Por ANDREAS MÜLLER
02/09/2017 (conteúdo atualizado em 25/05/2023)
Existem muitas maneiras de se escrever uma reportagem – em especial, um texto jornalístico adequado a revistas. As maneiras mais difíceis são aquelas que não seguem nenhum tipo de preparação prévia: o repórter simplesmente se senta à frente do computador e começa a digitar o texto ao sabor da intuição ou daquilo que lhe parece mais evidente. Mais fáceis são aquelas que seguem um determinado método. É quando o repórter faz o devido planejamento do texto antes de tentar colocá-lo na página.
Reportagens escritas sem planejamento podem ficar ótimas. O problema é que elas acabam exigindo muito mais tempo, paciência e energia do repórter que a escreve – afinal, é preciso ir editando e reestruturando o texto à medida que ele aparece na tela.
Repórteres experientes até conseguem escrever bons textos dessa maneira. Mas nem mesmo eles caminham às cegas; no fundo, eles seguem estruturas consolidadas que a experiência e a repetição lhes permitiram memorizar, texto após texto.
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Por outro lado, as reportagens escritas com planejamento tornam o processo de produção mais assertivo e menos exaustivo – na medida em que se reduzem os índices de retrabalho. Repórteres que seguem um plano pré-definido tendem a concluir matérias com mais facilidade, rapidez e um nível de resolução superior. Ocorre que não existe um método consagrado para se organizar e planejar um texto. Normalmente, cada repórter estabelece um modo próprio de produzir suas matérias, já adaptado ao dia a dia e às peculiaridades de cada veículo ou editoria.
Há, no entanto, algumas etapas que são comuns a todo tipo de texto jornalísticos, especialmente as grandes reportagens veiculadas em revistas. Elas podem ser divididas da seguinte forma:
Passo 1: reunir as informações brutas (apuração)
Não existe bom texto sem uma boa apuração. O repórter pode ter excelente vocabulário e grande inspiração – mesmo assim, nenhum texto se sustenta sem informações relevantes e sem um significado claro para o leitor. O repórter precisa reunir boas informações e analisá-las com rigor crítico. O que está faltando? Quais detalhes podem enriquecer a compreensão do tema?
Passo 2: estabelecer um foco ou linha de condução
Com os fatos devidamente mapeados, é preciso estabelecer um foco prioritário. Qual é a mensagem que você deseja passar ao leitor ao término do texto? Toda reportagem começa pela resposta a essa pergunta – que precisa ficar evidente, senão explícita, logo na abertura do texto.
O bom texto é aquele que traz uma ideia dominante – isto é, uma ideia suficientemente estimulante para que o leitor o percorra do começo ao fim. Sem uma ideia dominante, o texto tende a cansar e confundir o leitor. Essa ideia costuma ser expressa em uma ou duas frases posicionadas nos parágrafos de abertura. Sua função é, justamente, informar ao leitor o foco da reportagem.
Passo 3: classificar as informações
Com as informações mapeadas e o foco definido, é hora de organizar a estrutura do texto. Isto é: estabelecer a ordem em que suas informações serão apresentadas. Procure ordenar as coisas de forma lógica, em que uma informação sirva de gancho ou motivação para o leitor procurar a informação seguinte. Aproveite e descarte do seu plano todas as informações que não sejam absolutamente necessárias para a construção do seu raciocínio ou do contexto em que ele será apresentado. Textos mal organizados afugentam o leitor. Parar de ler é sempre mais fácil do que continuar lendo.
Passo 4: escrever
Redigir o texto é sempre um processo demorado e, por vezes, doloroso. Com muita frequência, o ritmo do processo criativo é muito mais lento do que o prazo disponível para a entrega do texto. As etapas percorridas anteriormente facilitam a tarefa, mas não a solucionam por completo. O meio mais simples de vencê-la é escrever rapidamente do começo ao fim. É sempre mais fácil aprimorar um texto já escrito do que editar partes de um texto inacabado.

Capas da Superinteressante: os jornalistas da República escrevem para a Super há mais de uma década.
Passo 5: editar
Com o texto bruto em mãos, chega a hora de lapidá-lo e conformá-lo aos padrões exigidos pelo veículo em que será publicado. É neste momento em que o repórter deve buscar o refinamento de linguagem e vocabulário que transformará o texto em uma experiência aprazível para o leitor.
Passo 6: fazer acabamentos e complementações
O processo que leva à redação de um grande texto nem sempre percorre as etapas anteriores de forma linear. Muitas vezes, o repórter pode chegar ao final e, só então, descobrir que o texto ainda carece de mais informações e complementações. Nesse caso, é preciso ter serenidade para percorrer novamente os passos anteriores e cobrir as lacunas identificadas.
O importante é ter em mente que a maior parte do trabalho envolvido na produção de um texto jornalístico para revistas acontece antes que a primeira palavra seja digitada.
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