Por LEONARDO PUJOL
01/08/2018
Como montar a lista de uma reportagem em forma de… lista? Para ilustrar, cito a reportagem de capa da revista Superinteressante, assinada por Emanuel Neves, Fernanda La Cruz e eu. O objetivo era listar mentiras (ou meias-verdades) vendidas pelos supermercados.
A partir da pauta, começamos o levantamento de potenciais itens. Fizemos uma primeira reunião, com a presença de toda a equipe da República, para debater o assunto. Na ocasião, aproveitamos para anotar os produtos potencialmente “suspeitos” que cada um sabia de cabeça. Três semanas depois, repetimos o encontro – cada pessoa trazendo novas sugestões.
Isto feito, um dos repórteres foi destacado para mergulhar no tema. Ele levou cerca de três dias entre livros, sites, pesquisadores e visitas ao supermercado para formar uma lista prévia. Os itens foram categorizados conforme o nome (do produto) e a hipótese. Ao fim da apuração, mais de 60 itens foram distribuídos em três linhas de raciocínio:
– Parece, mas não é: produtos que se vendem como uma coisa, mas na prática são outra.
– Não faz diferença: produtos com diferenciais aparentemente relevantes, mas que não fazem a menor diferença ao consumidor.
– Forçando a barra: produtos que supervalorizam alguma característica específica.
Para evitar ruídos na triagem, apenas os jornalistas mais experientes da agência e o repórter destacado decidiram o que poderia ou não entrar na reportagem em forma de lista.
Com a experiência de quem escreve há anos para a Super, uma revista de ciência, comportamento e curiosidades, nosso filtro deveria considerar o que era bacana, o que chamava atenção, o que era mais popular e, mais importante, o que “parava em pé” – ou seja, o que se sustentaria com base em dados e estudos técnicos.
A lista elaborada foi enviada a um dos editores da revista. A maioria dos itens foram aprovados de primeira. Outros careceram de nova checagem. Por fim, decidiu-se que a lista teria 20 itens.
A partir dali, era hora de uma nova rodada de apuração. A etapa incluiu leituras e entrevistas até que, finalmente, os repórteres tivessem subsídio suficiente para bater os textos.
Se você quiser saber mais sobre o processo de escrever matérias para revistas, te convidamos a ler o nosso post: “Texto jornalístico para revistas: como escrever“.