08/10/2025
Um dia, os discos de vinil foram considerados ultrapassados. Mas, em 2024, as vendas físicas do setor fonográfico foram de R$ 21 milhões no Brasil. E quem puxou essa alta? Ele mesmo, o vinil.
O vinil é o formato físico mais comercializado no País. De acordo com o Relatório da Música Brasileira, os bolachões faturaram R$ 16 milhões no ano passado – alta de 45,6% –, num claro retorno às raízes em meio à hegemonia do digital.
O texto de qualidade ensaia um movimento semelhante. E as revistas impressas tendem a ser as protagonistas nesse contexto de volta ao papel.
Back to paper: o retorno das revistas impressas
Assim como o vinil, as revistas já foram consideradas praticamente extintas. A facilidade do digital havia tornado o papel obsoleto. O impresso era caro, fora de ritmo, ocupava espaço e ainda era pouco simpático ao meio-ambiente.
Só que de repente as publicações analógicas começam a ganhar um novo significado. E é fácil entender o principal motivo.
Em algum momento, você já se sentiu cansado de tantas telas?
Não é só você. A fadiga digital é real. O uso excessivo de telas nos deixa mais cansados, menos concentrados e mais procrastinadores.
O renascimento das revistas surge nessa toada, impulsionado pela experiência sensorial e combinada a uma busca por maior qualidade na informação. O desembarque da revista Esquire no Brasil e o retorno ao impresso das revistas Capricho e Manchete (todas nos últimos 12 meses), por exemplo, mostram que há novas camadas de valor em jogo. Nostalgia, desejo de posse, foco e desaceleração são algumas delas.
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Além disso, o consumo de revistas é intencional – não o que o algoritmo sugere a você a todo instante. Na era do scroll infinito, nada de distrações com pushes, pop-ups, landing pages.
Ler revistas impressas é uma experiência sensorial – e justifica o investimento, como sugerem estes dados compilados em um artigo do Blog da República. Outras informações relevantes: 92% do mercado editorial brasileiro em 2023 foi dominado por livros físicos. E 64% das pessoas preferem ler no papel, quase o dobro do índice de 2021 (37%).

Renascimento das revistas surge em meio à fadiga digital, impulsionado pela experiência sensorial e combinada a uma busca por maior qualidade na informação. Imagens: divulgação
Personalização: cinco empresas que investem na própria revista
O renascimento das revistas impressas não está apenas na imprensa. Em 2025, diversas organizações e empresas mantiveram ou decidiram transformar seu conteúdo em experiência física — e o resultado são revistas personalizadas que unem propósito, design e jornalismo de marca.
A seguir, o Blog da República destaca cinco iniciativas que mostram como o impresso é uma poderosa ferramenta de conexão.
Arts & Culture – Chanel
Um século depois de Coco Chanel ter fundado sua marca em Paris, a grife francesa entrou no universo da mídia impressa. A revista Arts & Culture é uma publicação em inglês, que mais parece um livro de mesa.
Lançada em livrarias independentes pelo mundo – no Brasil, o evento aconteceu na Megafauna, em São Paulo, em julho de 2025 –, a revista é distribuída a parceiros desses endereços e da grife. A primeira edição, com mais de 250 páginas, registra a prática e a vida de artistas contemporâneos (além de bastante conteúdo editorial promocional da Chanel).
A publicação traz ensaios culturais, entrevistas e uma reportagem sobre arte com IA. A capa retrata um busto de Coco Chanel, feito pelo escultor Jacques Lipchitz em 1921.
Esta é a primeira revista de arte e cultura da Chanel. “Estamos vendo um ressurgimento do interesse por revistas e livrarias independentes”, explicou Yana Peel, presidente de artes, cultura e patrimônio da marca, ao jornal The New York Times.
A revista da Chanel revela o desejo das marcas de se conectar a uma cultura duradoura – e não apenas a momentos efêmeros e superficiais do mundo digital.
Business Talks – Fernandes Machado Business Law
Inspirada em projetos de brand publishing de sucesso, a Fernandes Machado Business Law lançou em 2025 a Business Talks.
A revista (distribuída impressa para stakeholders, mas acessível a todos digitalmente) é uma iniciativa independente, inspirada no conceito de think tank – em que o foco é gerar valor à sociedade através da difusão de conhecimento. Também se trata do primeiro passo de um projeto multicanal criado pelo escritório, sediado em Porto Alegre e especializado em direito empresarial.
“O cansaço das telas impulsiona o chamado slow journalism”, explicam os sócios da FMBL, Luciano Fernandes e Willian Machado, em carta assinada na segunda edição da revista.
A publicação se destaca pela abordagem sofisticada e inovadora, com curadoria cuidadosa de reportagens, perfis, entrevistas e artigos.
A produção, a edição e a arte da revista Business Talks é desta República – Agência de Conteúdo, especializada em projetos editoriais e de brand publishing.
Corriere – Fasano
A Corriere é uma extensão do estilo de vida e da filosofia do Grupo Fasano. Lançada em 2016, a publicação funciona como um registro sofisticado do universo que a empresa construiu – um mundo de hospitalidade, elegância e tradição italiana reinterpretada no Brasil.
Em 2025, foram duas edições. O conteúdo combina cultura, gastronomia, arte e design, com textos e imagens que traduzem o mesmo cuidado presente em hotéis, restaurantes, eventos e outros empreendimentos do grupo.
Por trás da decisão de criar uma revista personalizada está o desejo do Fasano de fortalecer sua narrativa de marca. Em vez de depender apenas da comunicação publicitária tradicional, a empresa escolheu contar as próprias histórias.
A revista, assim, é um instrumento de brand publishing: uma maneira de construir relacionamento – com hóspedes, clientes e admiradores – e reforçar valores por meio de conteúdo editorial de alta qualidade.
Velvet – Vivo
A Velvet é a revista bimestral da Vivo. A publicação é digital, mas também impressa – entregue em formato travel, que cabe na bolsa ou na pasta, em algumas lojas da telefônica, além de clínicas, consultórios e lounges do aeroporto de Guarulhos.
Com visual moderno e textos leves, a publicação traduz o estilo de vida digital da marca. Traz temas como inovação, sustentabilidade, diversidade e experiências, estimulando a reflexão e inspirando novas formas de conexão humana.
Mais que um produto editorial, a Velvet é uma ferramenta de relacionamento. Ao apostar em conteúdo autoral e bem produzido, a Vivo mostra que contar boas histórias é uma das formas mais eficazes de se aproximar das pessoas.
Cidade Jardim – Shopping Cidade Jardim / Shops Jardins
Em mais uma prova de que o consumo se confunde com experiência, o Shopping Cidade Jardim decidiu materializar seu universo em uma revista impressa.
A revista Cidade Jardim retrata o estilo de vida cultivado pelo empreendimento: sofisticado, urbano e cercado de natureza. A publicação mistura arquitetura, moda, gastronomia e comportamento, com esmero e cuidado estético.
Distribuída mensalmente aos frequentadores do shopping homônimo e do Shops Jardins, a Cidade Jardim reúne entrevistas, ensaios visuais e reportagens. Também há espaço para o novo – jovens artistas, tendências de bem-estar e destinos que dialogam com a ideia de um luxo mais humano e consciente.
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