7 documentários poderosos sobre jornalismo

Documentários de jornalismo: processo criativo de Gay Talese, mestre literatura de não ficção, é desvelado em "Voyeur".

Documentários de jornalismo: processo criativo de Gay Talese, mestre literatura de não ficção, é desvelado em “Voyeur”. (FOTO: Reprodução)

09/02/2018 (conteúdo atualizado em 01/06/2023)

Refletir sobre os dilemas do Jornalismo ou conhecer os bastidores de uma boa história são temas que atraem cada vez mais diretores e cineastas – e os frutos desse interesse, além de filmes excelentes, são documentários poderosos.

Voyeur, por exemplo, revela o processo criativo do lendário Gay Talese. Versado na arte do jornalismo literário, Talese trabalha em um livro cuja história, real, é um tanto quanto polêmica: um homem que compra um motel para espionar a intimidade dos hóspedes. Transcendendo a linearidade narrativa, e até mesmo expondo o mito que há décadas orbita Talese, o filme acompanha as reações do jornalista e de seu protagonista – o voyeur –, sobretudo após o mal-estar causado pelos buracos na apuração.

Já O Mercado de Notícias se debruça sobre os desafios e as reflexões acerca da profissão. Prato cheio em tempos de fake news, quando o jornalismo questiona suas próprias possibilidades e limitações. Dirigido pelo brasileiro Jorge Furtado, o filme discute o papel da imprensa brasileira pelo doloroso viés de seus próprios pecados, evocando casos antológicos como o da “Escola Base” e o do “Picasso do INSS”.

A seguir, os jornalistas da República – Agência de Conteúdo recomendam esses e outros documentários de jornalismo – tanto para profissionais experientes quanto para focas ou estudantes. E, principalmente, indicam onde assisti-los.

– Escola Base: um repórter enfrenta o passado (2022)

Em um esforço corajoso, o jornalista da TV Globo Valmir Salaro revisita a cobertura sobre o caso da Escola Base – instituição de São Paulo fechada em 1994 quando seus proprietários, sócios e uma professora foram injustamente acusados de abuso sexual contra alguns alunos. O filme é uma aula tanto sobre a evolução humana, que passa pela nobreza de se reconhecer os próprios erros e de saber perdoar, quanto da indefectível prática jornalística. Vale (muito!) o play.

– Por dentro da BBC Persa (2023)

A BBC é proibida de exercer seu trabalho no Irã. Segundo a empresa, muitos jornalistas do Serviço Persa da BBC são proibidos até mesmo de pisar no país – incluindo em casos extremos, como a morte de familiares. O documentário Por dentro da BBC Persa mostra o árduo trabalho de seus jornalistas para cobrir, a distância, os enormes protestos em curso no Irã desde a morte da jovem Mahsa Amini.

– Nobody Speak: Trials of the Free Press (2017)

“Nobody Speak” revela como poder e dinheiro ameaçam a prática jornalística. (FOTO: Reprodução)

Nobody Spreak apresenta duas tramas. Uma sobre a influência de um bilionário do Vale do Silício em uma disputa judicial contra a Gawker Media. A outra narra a compra do principal jornal de Nevada, o Las Vegas Review-Journal, por um magnata de cassinos. Ambos os casos, infelizmente, mostram como poder e dinheiro representam uma grave ameaça ao jornalismo. Oportunidade para nós, jornalistas, lembrarmos por que entramos nessa indústria – para mostrar o que sabemos, revelar a verdade sem medo, enfrentando instituições poderosas se for preciso.

– Primeira Página: Por Dentro do New York Times (2011)

Documentário sobre um dos jornais mais poderosos do mundo e sua transição do (velho) modelo jornalístico para o digital. É verdade que em termos de mercado muita coisa mudou desde o lançamento da obra, mas ela continua atual em relação a questões éticas e estratégicas dos veículos de comunicação. Page One tem como fio condutor David Carr, pai solteiro, ex-viciado em crack e que se tornou um respeitado colunista de mídia do New York Times. Carr, que faleceu em 2015, sempre acreditou numa segunda chance para o jornalismo. Se não a experiência do Times, que o otimismo de Carr contagie você.

– Em perigo (2022)

O documentário Endangered” (Em perigo), da HBO, acompanhou a rotina de quatro jornalistas na vanguarda de uma perigosa guerra cultural pela liberdade de imprensa. O filme cobre o dia a dia de Patrícia Campos Mello, jornalista da Folha de S. Paulo, bem como da fotojornalista mexicana Sáshenka Gutiérrez, o fotojornalista Carl Juste, do jornal Miami Herald, e o britânico Oliver Laughland, correspondente do jornal The Guardian nos EUA.

– Voyeur (2017)

A dualidade entre a realidade e a ficção fica exposta na obra lançada em 2017 pela Netflix. Mérito do roteiro linear. Assim, o espectador consegue compreender, passo a passo, a relação do jornalista Gay Talese com sua fonte, Gerald Foos, um voyeur que comprou um motel e passou anos espiando a vida dos hóspedes. A história virou livro: The Voyeur’s Motel – com edição em português, O Voyeur, da Cia. das Letras. Quando um trecho dele foi publicado na revista The New Yorker, jornalistas de outros veículos revelaram incongruências na história, questionando as afirmações de Foos, a integridade do livro e inclusive a apuração de Talese. O documentário acompanha toda a reação.

– O Mercado de Notícias (2014)

Não dá para fazer uma lista de documentários de Jornalismo sem citar essa maravilha de Jorge Furtado. No filme, o diretor provoca 13 jornalistas renomados a debater o papel da imprensa brasileira – sob a análise de exemplos jornalísticos negativos, como o caso da já mencionada Escola Base. O roteiro do filme, cujo projeto está disponível em um site especial, é conduzido pela peça teatral O Mercado de Notícias (The staple of news), do dramaturgo inglês Ben Jonson, do longínquo ano de 1625. A peça é uma crítica bem-humorada a uma atividade então recém-criada, uma grande novidade em Londres: o jornalismo.

Você tem mais sugestões de documentários? Podemos dar um up em nossa lista. Escreva para jornalismo@republicaconteudo.com.br.